A vida segue e eu também. Hoje vou falar um pouco desse clássico da música popular brasileira. Periafricania ou Brasileiroz foi criada pelo rapper Gaspar do grupo Z'africa Brasil especialmente para o fantástico documentário Zumbi Somos Nós , organizado pelo coletivo Frente 03 de Fevereiro. Caros , sem a menor sombra de dúvida essa música pra mim é o maior hino de luta do povo brasileiro.
"Não tenha medo em dizer que tu é preto / Não tenha espanto em dizer que tu é branco / Não seja omisso em dizer que tu é índio / Nos toca-discos corre sangue nordestino / "Antigamente quilombos, hoje periferia / O esquadrão zumbizando as origens, “z’africania” / Somos filhos de uma terra sagrada / Qualquer periferia, qualquer quebrada é um pedaço d’África"
Na música "é nóis" do 509-E um dos integrantes do RZO diz que o R.A.P bate forte como o boxe. Que o R.A.P bate forte eu não tenho dúvida, mas nessa música só os primeiros versos acima leva qualquer um à nocaute, é como se fosse um cruzado de direita na mente de cada cidadão brasileiro.
O Brasil em suma é uma extensão da África que ao longo da história foi criando vida própria, mas que a elite sempre fez questão de varrer pra de baixo do tapete qualquer influência que não fosse européia. Quem nunca ouviu: "Aboliu a escravidão e o negro sem condição foi da senzala direto pra favela", a música escancara essa realidade, mostra todo o descaso pós-abolição e um pouco da luta e a influência de um dos primeiros revolucionários do Brasil, Zumbi dos Palmares, que ao lutar por liberdade lutava também pela educação, saúde, contra a pobreza, igualdade, por uma vida digna com plenitude de direitos.
A música é tão impactante que trancende o vasto universo chamado Brasil e aflora no universo América, no universo África.
"A senzala do passado se perdeu na escuridão / Com ela a dor do extermínio e da escravidão / Quiloas, Bantos, Monjolos, Cabinda, Mina, Angola, Brasil, Cuba, Ruanda, Haiti, Jamaica, Etiópia / Conquistas, glórias, derrotas, vitórias / De tantas batalhas traçadas, misturando raças com as marcas da velha África"
Ela nos grita toda influência e ação negativa executada por aqueles que colocaram não apenas uma nação, mas a vida de seres humanos na condição de submissão em prol de interesses próprios, transformando a dignidade da pessoa humana em algo inexistente. A música reflete a eficácia da segregação e da dor criada pelos colonizadores, mostra também a sua ineficácia em reparar as mazelas sociais e promover melhores condições.
"Eu quero ouvir os tambores, as vozes, os rumores / No paredão, o som regando a paz / A Trindade Solano amores / Tirei do Cartola. Lenineei as poesias. Saquei um Garrincha / E da luz de Luiz, fiz a Melodia / A fusão, a toada de uma raça libertária / Sou Haile Selassie é ou não é djamba sagrada / Sou Mumia Abu Jamal, destruindo as celas / Sou James Brown, Berimbrown, Nino Brown. Sou da favela. / Sou Kingston. Chamo Capão. Sou marrusso / Sou sucupira, balanço lundu. Sou jongo, sou 1 da Sul / E nos antigos mistérios da quilombologia, toda quebrada é quebrada na grande periafricania"
O mano Gaspar tem a sensibilidade de mostrar o desenvolvimento, a multiplicação e evolução do líder Zumbi, que ao longo dos anos foi se propagando na consciência de muitos revolucionários negros e não negros, e entenda revolucionário todo aquele ou toda aquela que através de qualquer ação tenta transformar sua realidade, seja com a música, a poesia , o esporte ou qualquer outra ferramenta.
O mano ainda se supera na forma em que canta e que encanta, na denúncia poética, em cada rima e em cada verso que versa. Essa obra prima da música popular brasileira se faz perfeita no contexto em que é empregada pelo documentário Zumbi Somos Nós, mostra a essência de Zumbi, a resistência, a coragem e luta dos aquilombados em defender sua quebrada em pleno o século XXI, o prédio Prestes Maia que é apenas um pedaço D' África.
Eu acho que o link para a obra da qual eu faço a "suposta interpretação" deveria vir no começo do post, mas fazer o que né? Quem nunca ouviu a música pode acessar o site http://www.frente3defevereiro.com.br/ e ir no item disco ou clicar nesse link -> Periafricania (Zumbi Somos Nós)e acompanhar o trecho original extraído do documentário. Aconselho primeiro ver o video no youtube e depois a se embriagar de arte no site da Frente 03 de Fevereiro.
Eu ADOROOOO se toda música brasileira tivesse esse nível de consciência...Se toda música tivesse objetivos realmente artísticos, seríamos pessoas melhores...
ResponderExcluirSucesso !!!
ResponderExcluir